Nota de contexto
Via de mãos dadas, n.º 1, 2008
Vídeo 28’
Ação: Tiago Rivaldo e Fernando Klipel
Câmera: Gustavo Pessoa/Leo Nabuco
Praia do Flamengo, Rio de Janeiro. EXTERIOR. DIA.
Um amigo e eu unimos duas bicicletas, utilizando a mesma roda traseira. Pedalamos em sentidos opostos, ora levando ora cedendo, em busca de um certo equilíbrio, mesmo que momentâneo. Dois pra lá, dois pra cá. A insistente tentativa cria uma quase dança.
Via de mãos dadas, n.º 1
Em Amsterdam, no ano de 2004, após ter lançado um longa em que criticava o modo como a mulher é tratada na cultura islâmica, foi assassinado o diretor de cinema Theo Van Gogh por um muçulmano marroquino holandês. Tiago estava na cidade quando a população foi às ruas com tochas cobrar uma política do Estado em relação aos imigrantes e seu modo de ocupar a cultura local. Na cidade onde todos são ciclistas, surge, em Rivaldo, o questionamento de como dividir espaço (físico ou interno) de forma justa, horizontal, sem hierarquias.
Depois de três anos estudando e repensando o trabalho, Tiago constrói a “bike”: objeto que é construído utilizando duas bicicletas que compartilham a roda traseira. O objeto, que remete à ideia de cabo de guerra e emana tensão, conflito, impossibilidade, luta e discórdia, precisa de seu uso como ação para que tudo possa ser colocado de outra forma.
Diferente do que se imagina ao olhar o objeto, ele, de fato, pode ser utilizado. A roda central foi reforçada de modo a não se deformar pelo peso, pela tensão e pelas torções do encontro. Essa bicicleta, porém, não serve para sair de um lugar e ir a outro: o grande movimento no/do/pelo trabalho é interno. No processo de aprender a andar com essa nova bicicleta (quando ter controle, dar controle, ceder, sentir e se fazer sentido se mostram imprescindíveis), o pensamento, o equilíbrio, a força e a respiração conectados aos do outro colocam os participantes numa experiência que se constrói como a emergência de uma grande metáfora das relações.
* O vídeo Via de mãos dadas, n.º 1 foi produzido para a individual de Tiago Rivaldo, realizada no Ateliê Aberto (Campinas/SP) em 2008, depois de ficar “uns três ou quatro anos em órbita”, nas palavras do artista. Também foi apresentado na coletiva Sobrecidade, em 2009 no Museu Nacional – Brasília; e em 2012, na individual Eu e Outros Nós, na Galeria IBEU, Rio de Janeiro/RJ. Via de mãos dadas, n.º 1 também circulou como objeto de arte e como performance nas coletivas Abre Alas, na A Gentil Carioca, no Rio de Janeiro/RJ (2008); SPA das Artes, em Recife/PE (2008); Trepa Trepa no Campo Expandido, na SP Arte, em São Paulo/SP (2012); e Encruzilhada, no EAV Parque Lage, Rio de Janeiro/RJ (2015).
Referência: https://acervo.hipocampo.space/via-de-maos-dadas/